Laços de Família

Muito já ouvi falar do impacto que o nascimento de um bebê especial provoca nos pais e em toda a sua família, mobilizando papéis e até mesmo os vínculos já estabelecidos. Mas sempre falamos na família como um todo, ou no máximo nos dedicamos à questão dos pais, o que considero imprescindível! Mas e a respeito dos irmãos, o que sabemos? Muito pouco! O que sentem e o que pensam a respeito desta experiência? Em uma época que se valoriza tanto as diferenças, não paramos para ouvir e olhar para essas pessoas que convivem e irão conviver por toda a sua vida com seus irmãos especiais. A família toda sofre com uma situação nova e desconhecida e todo o esforço e energia dos pais acabam se direcionando para este novo ser. Mas e o irmão? Quais seriam suas angústias e necessidades? Qual seria o seu papel neste novo contexto familiar? Acredito que seja de extrema importância, dar a voz para esses irmãos, a fim de que eles possam se expressar e encontrar um lugar legítimo dentro deste novo contexto familiar. Vamos ouví-los? Você conhece ou é um irmão de uma pessoa com necessidades especiais? Convido vocês a participar e promover este novo debate.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Meu Irmão Especial

Por Chaya A. 

Desde pequena lembro-me de ter desejado que pudesse acordar e tudo não ter passado de um sonho. Lembro-me de desejar que nada disso tivesse acontecido, que não era a minha família a ser diferente das outras. Lembro-me de perguntar a D'us por que eu tinha recebido um irmão com necessidades especiais, por que recebi esta provação adicional para enfrentar.

Sempre me aborreceu o fato de que nenhuma das minhas amigas tinha um irmão especial, portanto eu simplesmente não contei a ninguém que ele era especial. Não queria ver os olhares enviesados que calavam fundo no meu coração, fazendo-me desejar que pelo menos eles tentassem entender. Entender que não precisamos de piedade, precisamos de amor.

Então um dia algo aconteceu. Algo que estará para sempre na minha memória.

Eu tinha apenas oito anos na época mas aquilo me afetou enormemente. Acordei pela manhã e meus pais e irmão não estavam em casa. Minha irmã mais velha contou-me tinham ido para o hospital durante a noite, meu irmão com grave hemorragia. Ele perdera tanto sangue que seu estado era crítico. O que aconteceu depois daquilo é uma lembrança nebulosa. Ele permaneceu no hospital durante semanas. Não podia comer, o que resultou em grande perda de peso, precisando de alimentação intravenosa. Fiquei muito abalada, e toda noite, antes de dormir, pedia a D'us pela recuperação do meu irmão, rezando para que ele não morresse. Foi uma época terrível. Tenho uma vaga recordação de minha mãe curvada sobre o corpo dele, imóvel, indefeso, e cada vez que me lembro disso, sinto um frio correr-me espinha abaixo.

Então, após um tempo que me pareceu uma eternidade, ele começou a melhorar. Após semanas de recuperação, ele finalmente teve alta do hospital. Seremos sempre gratos a D'us por trazê-lo de volta para casa, mas eu não conseguia esquecer. A vida continuou, mas jamais esquecerei o sofrimento pelo qual minha família passou. Alguns anos depois, a vida tornou-se menos desafiadora, mas ainda difícil… Era duro entender que com toda a sua meiguice, ele jamais seria como todas as outras pessoas.

Tive de tolerar muitos comentários desagradáveis; as pessoas olhavam para ele como se tivessem medo, ou simplesmente desviavam os olhos ou atravessavam a rua quando passávamos com ele. Muitas crianças com necessidades especiais têm seu próprio mundinho, no qual desaparecem ocasionalmente, e às vezes me pergunto o que ele está pensando quando o vejo com o olhar perdido no nada.

Você poderia perguntar por que eu poderia sequer pensar em considerar uma criança dessas como uma "provação", mas somente aqueles em minha situação podem entender por que eu me sentia daquela forma. Porém um dia aquilo mudou. O dia em que parei de ouvir a voz na minha cabeça, a voz que exigia saber por que eu tinha de ter aquele fardo, a voz que exigia justiça.

Justiça para quem, você poderia perguntar? Para ele? Para minha família? Comecei a fazer minha mente voltar àqueles dias sombrios. Lembrei-me das incontáveis noites passadas no hospital, lembrei-me das noites insones preocupando-me com ele, e fiquei furiosa. Como D'us podia ter deixado aquilo acontecer? Mas então ocorreu-me outro pensamento. Percebi que foi D'us que o salvara, também. Lembrei-me quem tinha me dado essa "injustiça" – fora Ele. Ele, que é misericordioso, que nos ama, que faz tudo para o nosso bem. Mas como isso poderia ser bom? Como poderia o enorme sofrimento e desgosto serem para o bem?

Certa vez eu ouvi algo que realmente ajudou-me a entender como este "fardo" e todos os fardos são na essência bons, como não podemos viver uma vida plena sem eles.

Imagine que você tem um quebra-cabeças de um sol se pondo por trás de um oceano escuro. Algumas peças são totalmente negras, outras coloridas e brilhantes. Mas quando você as colocas juntas e obtém o quadro inteiro, percebe que sem aquelas peças escuras, negras, o quadro não teria ficado completo. Estas peças escuras são aquilo que vemos como os fardos da vida. Como pode haver o bem em algo que não aparenta possuir nada de bom?

Na essência, tudo que acontece para nós na vida é bom. Não vemos o quadro inteiro, mas D'us vê. Demorei muito tempo para finalmente entender isso; passei por muito sofrimento e dor para apreciar plenamente aquilo que tenho.Sei que lá fora sempre haverá pessoas que tornarão isso mais difícil para mim, pessoas que não sabem o que é o verdadeiro amor, e pessoas que são muito insensíveis para entender. Não é fácil escutar pessoas que julgam sem pensar, não é fácil pensar que tudo que acontece é para o bem, não é fácil ficar quieto quando você vê alguém zombando dessas crianças especiais, que não escolheram o seu destino. Mas quem disse que era fácil? Não é, e jamais será.

Já prendi muitas lições, mas esta sem dúvida foi a mais forte. Então agora, quando dou a ele um beijo de boa noite e o escuto cantar a prece Shemá Yisrael com a voz mais meiga que já ouvi, lembro-me que não importa o que possa vir daqui em diante, serei sempre grata pelo presente que eu não sabia possuir.


Fonte:
http://www.pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/618252/jewish/Meu-irmo-Especial.htm

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Novas reflexões

Durante a minha trajetória, convivendo com as mais diversas famílias que têm uma pessoa com necessidades especiais, tenho observado muito os irmãos e as suas mais diferentes características. Temos que reconhecer, que os irmãos são fortes componentes desse sistema familiar, e como tal são atingidos de alguma maneira. Não quero aqui criar mais esteriótipos, minha única intenção é que nós estejamos atentos para as necessidades desses familiares. Assim como os pais, os irmãos também assumem um novo significado e um novo sentido no relacionamento com seu irmão especial. Sendo ele mais novo, mais velho, e independe da deficiência. O que desejo aqui, é que possamos dar espaço e escuta para que os sentimentos deles sejam manifestados, sejam eles quais forem. Esses novos significados devem ser falados e elaborados, pois as relações podem ser de proteção ou destruição, e nada disso deve ser julgado, pois todo sentimento deve ser valorizado e pode ser transformado, o que ele não deve ser, é ocultado. Esses irmãos devem ser ouvidos para falarem de seus receios, de suas alegrias, de suas dificuldades e a sua contribuição deve ser sempre reconhecida. Muitas vezes, por força das circunstâncias vivenciadas em algumas famílias, alguns acabam ficando à margem do protagonismo familiar e outras vezes se sentem pressionados pela sociedade ou a própria família, a assumir um papel de responsabilidade ou suporte que os incomodam e não reconhecem no ambiente familiar um espaço para criticar os pais ou até mesmo para manifestar qualquer sentimento averso a este irmão. Com certeza as características individuais de cada família irão colaborar para que esses sentimentos sejam agravados ou amenizados. Mas queremos aprender com eles e talvez quem sabe auxiliá-los. A ambivalência de sentimentos faz parte de qualquer relacionamento e neste caso não seria diferente!

Parceria nas adversidades

http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2013/01/crianca-que-ajuda-irmao-com-paralisia-cerebral-se-torna-inspiracao-na-web.html