Laços de Família

Muito já ouvi falar do impacto que o nascimento de um bebê especial provoca nos pais e em toda a sua família, mobilizando papéis e até mesmo os vínculos já estabelecidos. Mas sempre falamos na família como um todo, ou no máximo nos dedicamos à questão dos pais, o que considero imprescindível! Mas e a respeito dos irmãos, o que sabemos? Muito pouco! O que sentem e o que pensam a respeito desta experiência? Em uma época que se valoriza tanto as diferenças, não paramos para ouvir e olhar para essas pessoas que convivem e irão conviver por toda a sua vida com seus irmãos especiais. A família toda sofre com uma situação nova e desconhecida e todo o esforço e energia dos pais acabam se direcionando para este novo ser. Mas e o irmão? Quais seriam suas angústias e necessidades? Qual seria o seu papel neste novo contexto familiar? Acredito que seja de extrema importância, dar a voz para esses irmãos, a fim de que eles possam se expressar e encontrar um lugar legítimo dentro deste novo contexto familiar. Vamos ouví-los? Você conhece ou é um irmão de uma pessoa com necessidades especiais? Convido vocês a participar e promover este novo debate.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Carta de uma criança a seu irmão com necessidades especiais

"Desde que me lembro, tu estás em minha vida. Não tenho lembranças dos dias em que não conhecia você e suas necessidades especiais. Eu te quero, te quero muito, porque és meu irmão e ma fazes rir, me fazes ficar com raiva, me fazes companhia e me ensinas sobre a vida.
Ainda que eu seja uma criança, me dou conta de tuas dificuldades. Vejo que há algumas coisas que eu posso fazer, e tu não podes. Dizem que as terapias te ajudarão a fazê-las, mas eu não vejo isso tão importante: sempre que ri, quando brincamos juntos, penso que talvez nossos pais esperam de ti algo que talvez não alcançará, e se esquecem de quão lindo e divertido és.
Gosto de te ajudar quando posso. Mas não me sinto bem quando nossos país me pedem mais do eu posso dar. Eu também sou uma criança, e tenho minhas próprias necessidades, ainda que as tuas sejam mais “especiais”. As vezes me pedem que eu tenha mais paciência, que espere mais do que posso esperar, ou que ajude mais do que posso ajudar. Eles querem que eu participe da experiência maravilhosa de ser teu irmão, mas as vezes se perdem, e parece que querem fazer-me amadurecer antes do tempo, pedindo atitudes que não correspondem a minha idade.
Por isso, irmão adorado, muitas vezes tenho ciúmes de ti. Vejo que recebes mais ajuda, mais atenção, que falam mais de ti, que escrevem blogs a seu respeito, que estão muito conectados contigo. Não me leve a mal, mas muitas vezes penso que talvez tivesse sido melhor ter um irmão sem necessidades especiais. Mas não te culpes, este sentimento não tem a ver contigo, sim com o que os nossos país fazem, ou deixam de fazer.
Me dou conta, e me dói muito, que as pessoas que não te conhecem te olhem diferente e fiquem cochichando ao te ver. És lindo, és meu irmão e gostaria de te defender, mas não sei como fazê-lo. Só sei que eu não faria isso jamais, que nunca vou esquecer o que tenho aprendido ao viver o dia a dia contigo, e que graças a você, sei desde sempre que todos os seres humanos temos o mesmo valor. Eu gosto como és, e gosto das pessoas. Não olharia feio a ninguém só porque parece diferente.
No colégio alguns colegas me perguntam porque és assim, e inclusive, alguns se incomodam com a sua forma de ser. Eu prometo que vou te defender como eu posso, porém sigo sem entender o que lhes parece tão estranho. Ao final, eu conheço muitas pessoas que não são iguais a outras, por serem muita louras, muita altas, muito falantes ou muito elegantes. Você é um pouco diferente, mas é muito difícil encontrar as palavras para explicar isso a outras crianças que parecem não entender.
Alegro-me ter crescido junto de ti. Porque graças a isso sempre entendo o que queres, sempre sei o que necessitas e te conheço mais do que ninguém no mundo (porém não diga isso a nossos pais, que poderiam se ofender).
De todo modo, há algo que me preocupa um pouco: é que escutei nossos pais dizendo que eu serei responsável por ti quando formos grandes. Sabes que te adoro, mas não creio que isso seja justo: nem sequer sei como ser responsável por mim mesmo, e já estão pensando em me responsabilizar por ti. Eu confio muito em tua capacidade, e acredito que deveriam te ensinar a ser mais independente possível. Talvez não consiga fazer tudo, mas te mimando e protegendo em excesso, não conseguirão nada (a não ser fazer me sentir muito enciumado e isolado).
Bom, irmãozinho. Ainda que nem sempre seja fácil ser teu irmão, quero que saiba sempre que a teu lado ganhei muito mais do que perdi, que me ensinaste sobre o amor e aceitação incondicional. E que se há erros e falhas, são de nossos queridos pais, não nossas, porque tu e eu somos e sempre seremos inseparáveis.
Um grande abraço,
Teu irmão."

Comunidade Aspau do facebook, dia 13/01/2013
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